Panchito González/Prensa Latina
Sacha Llorenti é diplomata boliviano, ex-ministro do governo Evo Morales e secretário executivo da Alba
Opera Mundi/São Paulo (Brasil)
O diplomata boliviano Sacha Llorenti explicou no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (02/09) o funcionamento da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP ou simplesmente Alba). Ele classifica a Alba como uma aliança solidária contra o imperialismo estadunidense.
Sem acordos ou convênios militares (“é uma aliança para a vida”), a aliança prioriza as políticas sociais a economia e finanças e define educação e saúde como principais polos de atuação.
“O exemplo mais bonito é o da luta contra o analfabetismo em nossa região. Graças à metodologia cubana do programa Yo Sí Puedo, a Bolívia, a Nicarágua e a Venezuela foram declarados países livres do analfabetismo pela Unesco. São os países da Alba, não é uma casualidade”, constata Llorenti.
Atualmente, a aliança é integrada por dez países do Caribe e da América do Sul: Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Antígua e Barbuda, Granada, Dominica, São Vicente e Granadinas, São Cristóvão e Neves, e Santa Luzia.
“O mesmo aconteceu em matéria de saúde, por isso a Alba é tão distinta dos tratados de comércio que buscam o lucro ou a imposição de uns países sobre outros”, define. Durante a pandemia, a organização criou um fundo humanitário para que os menores países da aliança pudessem comprar vacinas.
“Era muito difícil para um país de 100 mil habitantes adquirir vacinas, porque se vendiam por milhões. Adquirimos conjuntamente e criamos uma ponte aérea para que chegassem aos países, declarou Llorenti.
O projeto de integração nasceu há 18 anos, por iniciativa de Cuba e da Venezuela, então governados por Fidel Castro e Hugo Chávez, respectivamente. Era uma resposta à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que, sob o domínio dos Estados Unidos, pretendia impor o modelo neoliberal ao continente.
“Nasce como uma alternativa de relações internacionais, que busca a integração com princípios baseados na cooperação, na complementariedade e na solidariedade, em busca da unidade dos povos da aliança”, explica Llorenti.
Apesar de adotar o bolivarianismo no nome, o bloco se contrapõe a políticas de exclusão ideológica e denuncia o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos contra Cuba e as medidas coercitivas estadunidenses contra Venezuela e Nicarágua.
“Nossos princípios são absolutamente claros, e podem ser resumidos na defesa da Carta das Nações Unidas do direito internacional”, expõe o diplomata. “Não escondemos nossas posições político-ideológicas. A Alba se manifesta de maneira muito clara como anti-imperialista. Vários de nossos países são permanente e sistematicamente agredidos pelos Estados Unidos.”
Comprometida com o fortalecimento da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a Alba tem três de seus países excluídos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“A Celac e a OEA funcionam com duas doutrinas distintas. A OEA é ponta de lança da política externa estadunidense, que continua aplicando a doutrina Monroe, de ‘América para os Americanos’, mas os americanos são somente os do norte”, critica o secretário-geral da aliança. “Como está agora, a OEA, em vez de ser uma instância de integração, é uma instância que organiza golpes de Estado.”
A plataforma possui banco próprio, o Banco da Alca, que outorga créditos para os países-membros, e almeja criar uma moeda própria, o sucre, mas enfrenta o obstáculo das sanções (que Llorenti prefere chamar de medidas coercitivas unilaterais) dos Estados Unidos.
“Escutamos o que Lula falou sobre a necessidade de uma moeda única na América do Sul. Com o tempo será inevitável uma moeda comum pelo menos para intercâmbio comercial, respeitando a soberania monetária de cada Estado”, opina o ex-ministro do governo boliviano de Evo Morales.
Outro obstáculo é a peculiaridade de que não existem fronteiras terrestres entre nenhum dos países integrantes da Alba: “Um dos grandes problemas do Caribe Oriental é a conectividade. Para ir a São Vicente e Granadinas, muitas vezes é preciso ir primeiro a Miami ou a Londres para poder chegar. A falta de conexão territorial e conectividade entre nossos países é um dos grandes desafios que devemos superar”.
Sacha Llorenti sublinha a importância da palavra solidariedade para o bloco bolivariano: “É uma palavra que se repete muito, mas é preciso ver quais são os países que, quando há alguma catástrofe, são os primeiros que aparecem para ajudar o próximo. São países como Venezuela e Cuba”.
Ele cita exemplos no enfrentamento à pandemia, no envio de médicos por Cuba, até à Itália, e na atuação da Venezuela levando oxigênio para o norte do Brasil. “Não são ações muito comuns. Durante a pandemia, os países desenvolvidos atuaram como piratas, revistando carregamentos nos aeroportos e se apropriando de equipamentos com violência”, protesta, distinguindo as duas doutrinas em permanente oposição.