© REUTERS / Gabinete de Imprensa do Ministério da Defesa dos EUA
Sputnik – Nos últimos dias, cerca de 200 áreas no Afeganistão foram palco de um aumento de violência, segundo reportou a mídia afegã em 17 de junho.
The New York Times relacionou o aumento de confrontos entre a ala militar do Talibã (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países) e as forças governamentais do Afeganistão com a retirada das forças dos EUA e da OTAN do país.
O jornal estadunidense sugeriu que a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, em retirar as tropas americanas e as forças internacionais restantes do país até 11 de setembro de 2021 “encorajou o Talibã e colocou em risco o destino do Afeganistão”. De acordo com a mesma mídia, “dezenas de distritos” já se encontram dominados pelos militantes desde que as forças dos EUA e da OTAN começaram a se retirar da região em 1º de maio de 2021.
Sobre a permanência dos EUA no Afeganistão
Em 16 de fevereiro de 2021, o líder do movimento, Abdul Ghani Baradar Akhund, emitiu um apelo ao povo estadunidense, dizendo que os EUA deveriam respeitar seu compromisso em se retirarem do país centro-asiático.
Em meados de março deste ano, The Washington Post publicou um documento, datado de 28 de fevereiro de 2021, informando sobre a nova estratégia da administração Biden para uma solução política no país. Segundo a mídia, o plano foi depois entregue ao Talibã e ao governo afegão, após Biden ter revisado as políticas de seu predecessor, Donald Trump, e o acordo entre os EUA e os Talibã.
A nova proposta de Washington previa o estabelecimento de um governo provisório, reescrever a Constituição do país de acordo com os princípios “democráticos” da lei estatal do Afeganistão de 2004, “equilibrar” o papel do Islã no país e, deste modo, colocar as decisões do Supremo Tribunal do país acima do “Conselho Superior de Jurisprudência Islâmica”.
Anteriormente, o Talibã insistiu em aumentar o papel das instituições islâmicas no país, mas, conforme o The Washington Post, “dentro dessas propostas há elementos que ambos os lados descreveram como não negociáveis, de modo que é improvável que o plano [de Biden] seja implementado em sua forma atual”.
Mais tropas americanas no Afeganistão?
Após o presidente Biden ter anunciado, em abril, que os EUA iniciaram seu processo de retirada do Afeganistão em 1º de maio de 2021, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, assinalou que era possível que Washington intensificasse provisoriamente sua presença na região durante as semanas e meses seguintes.
“É um país sem litoral e há, claramente, potencial para resistência e oposição aqui à medida que vamos recuando […] Não está fora de questão que algumas funções temporárias de habilitação tenham que ser introduzidas na região para permitir que isso [a retirada] seja o mais seguro e ordenado possível. Isso seria a coisa certa a fazer. A coisa mais prudente a fazer. Seria uma irresponsabilidade se não estivéssemos pensando nisso”, sublinhou Kirby.
Já no início de junho, Washington declarou ter retirado mais de 50% de suas forças e equipamentos, segundo o Comando Central dos EUA, acrescentando que em diante não daria mais notificações sobre a percentagem específica das forças retiradas de lá.
No entanto, a mídia norte-americana continuava alimentando preocupações sobre as alegadas ofensivas de larga escala, por parte do Talibã, com o alegado objetivo de derrubar o governo afegão.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, sugeriu em 17 de junho que levaria pelo menos dois anos para que grupos como a Al-Qaeda (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países) conseguissem aumentar significativamente sua presença no Afeganistão após a retirada completa dos EUA e da OTAN do país, apresentando-se assim como uma ameaça tanto para os EUA como para seus aliados.
O papel do Paquistão
Em meio a toda esta complexa situação, nem o Paquistão – que desempenhou um papel importante nas negociações entre os EUA e o Talibã, ainda durante a presidência de Donald Trump – conseguiu escapar de críticas por parte Washington e Cabul, devido a controvérsias relativas à implementação dos acordos de paz.
Na semana passada, durante a sessão inaugural do Diálogo Bilateral Paquistão-Afeganistão, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, disse que Islamabad não assumiria responsabilidade caso o processo de paz no Afeganistão se desmoronasse.
De acordo com Qureshi, o Paquistão fez o que pôde para ajudar a resolver a crise, alertando contra as tentativas de Washington e Cabul de usar o país como bode expiatório.
No que toca à recente escalada de violência no país centro-asiático, Qureshi somente questionou: “Quem é o responsável por isso? […] Mais uma vez, se você tenta criar a impressão de que a violência é alta por causa do Talibã […] de novo, isso seria um exagero. Por que digo isso? Não tem outras partes que estão desempenhando um papel de perturbador?”
O ministro das Relações Exteriores paquistanês sugeriu que o Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países) ou forças semelhantes dentro do Afeganistão poderiam “ganhar com a economia de guerra, que querem perpetuar seu poder”.
A paz e a estabilidade no Afeganistão, por sua vez, também são do interesse de Islamabad, tanto por razões econômicas como securitárias, explica um analista de assuntos estratégicos no The National Interest.
“Desta maneira, é apenas lógico argumentar que o Paquistão não vai minar seus próprios interesses econômicos ao impedir, deliberadamente, os planos dos EUA para o Afeganistão, especialmente quando advertiu repetidamente que não aprovaria ser bode expiatório se o Afeganistão mergulhar no caos”, concluiu ele na matéria.