Créditos da foto: (Evaristo Sá/AFP)
A esquerda do século XXI é uma esquerda, antes de tudo, antineoliberal, porque o capitalismo há adotado esse modelo na sua fase histórica atual. Resistir ao neoliberalismo, combatê-lo e buscar alternativas à sua superação são as primeiras tarefas da esquerda no mundo neste século.
A esquerda do século XX tinha tido como referências fundamentais a Revolução Russa, os partidos comunistas e os partidos socialdemocratas. Por outro, a Revolução Cubana e os movimentos guerrilheiros latino-americanos.
A queda do Muro de Berlim, o fim da URSS e do campo socialista, assim como a assunção pelo capitalismo do modelo neoliberal, afetou diretamente o campo da esquerda. Por um lado, se deu o enfraquecimento dos partidos comunistas, por outro, a conversão da socialdemocracia ao neoliberalismo. Foi rompida assim a aliança histórica entre socialdemocratas e comunistas, que constituía uma referência central da esquerda do século XX.
Por outro, as derrotas dos movimentos guerrilheiros praticamente terminaram com essa corrente na esquerda. O surgimento dos governos antineoliberais projetou novas lideranças na esquerda latino-americana: Hugo Chávez, Lula, Nestor e Cristina Kirchner, Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa, Lopez Obrador.
Lula é quem soube, melhor do que ninguém, captar a centralidade da luta antineoliberal. Sua trajetória de vida e suas experiências na luta de resistência ao neoliberalismo no Brasil lhe permitiram fazer um governo exemplar.
Um governo que teve seu centro nas políticas sociais, nas políticas de distribuição de renda e de expansão do mercado interno de consumo de massas, apoiado na retomada do crescimento econômico que, por sua vez, gerou mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada.
Ao mesmo tempo, Lula se deu conta como esse tipo de governo se complementa com uma política externa soberana, que privilegia alianças regionais na perspectiva dos processos de integração e nos intercâmbios Sul-Sul, em particular com a China.
A esquerda no século XXI tem na América Latina seu epicentro. Por ter sido a região que teve mais governos neoliberais e nas suas modalidades mais radicais, foi na América Latina que surgiram e se concentraram os governos antineoliberais no mundo e surgiram os maiores lideres da esquerda no século XXI.
A luta anticapitalista, característica da esquerda, passa pela luta antineoliberal, passa por derrotar o neoliberalismo, como modelo hegemônico do capitalismo neste período histórico. Por isso a esquerda do século XXI é uma esquerda, antes de tudo, antineoliberal.
De todos os líderes latino-americanos, Lula é quem representa, da melhor maneira, essa dinâmica. No primeiro governo, Lula desarticulou os eixos do modelo neoliberal: a prioridade dos ajustes fiscais, os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos, a centralidade do mercado, junto ao Estado mínimo.
Na Europa, a esquerda se enfraqueceu muito com o fim das alianças históricas entre a social democracia e os partidos comunistas. Surgiram grupos novos, mas que não conseguiram encontrar o seu lugar, nem na Espanha, nem na Itália, nem na Franca, nem na Alemanha. A referência de esquerda na Europa continua sendo os partidos socialdemocratas, mesmo quando implementam políticas neoliberais, ainda que atenuadas, em comparação com as colocadas em práticas pelos partidos de direita.
O destino da esquerda no século XXI depende do seu futuro na America Latina. Conta com os governos do México, da Argentina, da Bolívia. Pode chegar a contar também com o Chile, o Peru e a Colômbia. Mas esse destino dependerá, no fundamental, das eleições brasileiras. Caso Lula voltar a ser o presidente do Brasil, se consolidará a América Latina como o epicentro das lutas antineoliberais e da construção de alternativas ao neoliberalismo.