Marino Boeira*
Os árabes palestinos, que Israel está massacrando hoje em Gaza, podem ter sido os descendentes dos antigos judeus que viviam na região e que foram assimilados pelo islamismo durante a longa ocupação turca de 1512 a 1917.
Quem levanta essa tese é o Shlomo Sand.
Seria ele mais um anti semita que nega o Holocausto?
Longe disse, Shlomo Sand é filho de pais sobreviventes dos campos de extermínio nazista, nasceu em Linz , na Áustria e migrou para Israel, Jafa com a família em 1948 . É doutor em História e professor na Universidade de Tel Aviv e também em Bekerley, na Califórnia e na Ecole de Hautes Etudes en Sciencies Sociales, em Paris.
Seu livro mais famoso, A Invenção do Povo Judeu, foi traduzido no mundo inteiro e nele ele afirma que muitos judeus que permaneceram na Palestina após a queda do Império Romano podem ter se convertido ao islamismo.
Sand diz que a chamada “diáspora judaica” é falsa porque Roma nunca expulsou povos inteiros dos seus domínios.
Segundo Sand o mito de um povo sem lar nasceu “num certo estágio, no século XIX, quando os intelectuais de origem judaica na Alemanha, influenciados pelo nacionalismo alemão, tomaram a si a tarefa de inventar um povo “retrospectivamente”, na ânsia de criar um povo judeu moderno.
A partir do historiador Heinrich Graetz em diante, os historiadores judeus começaram a desenhar a história do judaísmo como a história de uma nação que tinha sido um reino, tornou-se um povo errante e, finalmente, deu meia-volta e retornou à sua terra natal”. Sand acredita que a ideia de judeus sendo obrigados a regressar do exílio à Terra Prometida era estranha ao judaísmo antes do nascimento do sionismo, e os lugares santos eram vistos como lugares de peregrinação, não como habitações. Pelo contrário, durante 2.000 anos os judeus ficaram longe de Jerusalém porque a sua religião os proibia de regressar até que o Messias voltasse.
A conclusão de Shlomo Sand é de que a expulsão dos judeus pelo Império Romano “simplesmente não aconteceu, que ninguém exilou o povo judeu da região, e que a diáspora é, essencialmente, uma invenção moderna”.
O autor representa o surgimento de milhões de judeus em torno do Mediterrâneo e em outros lugares, como algo que surgiu principalmente através da conversão religiosa da população local, principalmente os cazares, argumentando que, o Judaísmo, ao contrário da opinião popular, era muito mais uma “religião de conversão” em tempos antigos.
Ele sustenta que as conversões em massa foram primeiramente feitas pelos Asmoneus sob a influência do helenismo, e continuaram até o cristianismo ascender no quarto século depois de Cristo.
Numa entrevista ao jornal The Observer, Shlomo Sand explicou quais foram seus objetivos com o livro A Invenção do Povo Judeu: “”Escrevi o livro com um duplo propósito. Primeiro, como israelense, para democratizar o Estado, para torná-lo uma verdadeira república. Segundo, eu escrevi o livro contra o essencialismo judaico que é a tendência, presente no judaísmo moderno, a de fazer da etnicidade compartilhada a base para a fé. Isso é perigoso e nutre o antissemitismo. Eu estou tentando normalizar a presença judaica na história e na vida contemporânea”,
*Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS