“Estou basicamente sendo caçado — se eu deixar o país, com certeza serei pego. Eles [Departamento de Justiça dos EUA —DOJ, na sigla em inglês] estão ativamente buscando um processo criminal e um mandado de prisão para mim na Espanha, porque nem todos os países têm acordos de extradição com os EUA”, disse Ionov.
Ele acrescentou que Washington quer isolá-lo completamente.
“Dessa forma, eles estão tentando me impedir de ir para o exterior para me envolver com grupos políticos ao redor do mundo. Em outras palavras, o objetivo deles é me isolar completamente.”
Ionov acrescentou que também está
sob investigação criminal pelas autoridades ucranianas e
recebeu ameaças de morte de ucranianos por causa de sua posição diante da
operação militar especial da Rússia na Ucrânia.
“É claro que tomo precauções de segurança sempre que posso. Mas não sou um funcionário, o Serviço Federal de Proteção ou o Ministério do Interior [da Rússia] não me protegem”, disse ele.
O fundador de 33 anos do Movimento Antiglobalização da Rússia (AGMR, na sigla em inglês)
pode pegar até cinco anos de prisão nos Estados Unidos se for considerado culpado. Ele
negou as alegações do DOJ de que conduziu uma campanha de influência maligna estrangeira ou tentou influenciar as eleições norte-americanas em coordenação com o Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo) da Rússia. Moscou negou repetidamente as alegações de que interferiu no processo de votação dos EUA em 2016.
O Departamento do
Tesouro dos EUA também anunciou sanções contra Ionov no ano passado, bloqueando quaisquer ativos que ele possa ter nos Estados Unidos e
proibindo cidadãos e empresas estadunidenses de fazer negócios com ele. Ionov disse que as sanções financeiras efetivamente o impediram de contratar um advogado nos Estados Unidos.
“Não posso pagar um advogado por seus serviços porque também estou sob sanções. Então, se um advogado tirar dinheiro de mim, ele será preso ou algo assim. Eles estão tentando me privar de qualquer meio de me defender”, disse ele à Sputnik.
Ionov descreveu as acusações do DOJ e a campanha de difamação contra ele nos Estados Unidos como um pesadelo.
“Nunca estive nos EUA e as informações que a mídia e as autoridades americanas publicam em suas plataformas oficiais parecem um pesadelo para mim”, confessou.
Ionov acusou o DOJ de
não ser transparente em suas acusações contra ele além de não ter publicado nenhum documento no caso de conspiração e estar tentando ativamente politizá-lo sem fornecer nenhuma
evidência de irregularidades.
“Eles me chamaram de ameaça à segurança nacional em outubro. Ainda não sei que ameaça representei para eles porque os documentos permanecem lacrados — eles não foram tornados públicos”, disse ele, acrescentando que o DOJ baseou as acusações em relatórios de inteligência.
“Eles estão politizando ativamente meu caso. Eles não conseguiram encontrar nenhuma evidência para substanciar meu caso além das [alegações] tendenciosas e não comprovadas que fizeram na acusação”, afirmou.
Essas alegações infundadas contrastam fortemente com os esforços dos EUA para se retratar como um
farol de democracia e transparência, argumentou o ativista russo. Ele disse que o Departamento de Justiça estava oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões (cerca de R$ 48 milhões) por qualquer informação sobre sua suposta campanha maliciosa em uma tentativa de resolver essa
lacuna flagrante no caso que estava construindo contra “o russo perverso que recrutou americanos em todos os lugares para minar a democracia”, como ele mesmo descreveu.
A acusação alega que, pelo menos de dezembro de 2014 a março de 2022, Ionov recrutou e financiou grupos políticos nos EUA
para publicar “propaganda pró-Rússia”. O DOJ diz que ele apoiou campanhas políticas na Flórida, promoveu a separação da Califórnia dos EUA e financiou uma viagem de protesto em apoio a uma petição
criticando o “genocídio” do povo africano nos EUA.
Compartilhando experiência
Ionov também observou que os grupos norte-americanos de defesa dos direitos contrataram colegas russos para ganhar experiência que eles aplicaram com sucesso em casa.
“Existem muitas leis [úteis] na Rússia, por exemplo, a lei de controle social, que os americanos no estado de Illinois, por exemplo, aprenderam e promoveram ativamente. No ano passado, eles aprovaram com sucesso uma versão russa diluída da lei, que estabeleceu o controle social sobre a polícia. Agora os ativistas da sociedade civil podem ir a uma delegacia e avaliar as condições de detenção”, afirmou.
O número de engajamentos entre defensores dos
direitos humanos russos e norte-americanos diminuiu após o colapso da União Soviética, mas voltou a crescer na década de 2010. Russos e norte-americanos se reuniram no Oriente Médio para
discutir abusos de direitos dos EUA no Egito, Tunísia e Líbia, disse Ionov, que dirige o AGMR.
“Depois que a chamada Primavera Árabe começou no Oriente Médio, muitos defensores de direitos e ativistas no Ocidente se manifestaram contra a interferência nos assuntos internos de outros países. Eles se uniram para formar grupos de solidariedade em todo o mundo”, disse ele.
O ativista também enfatizou que muitos grupos de direitos humanos dos EUA
não pararam de cooperar com sua organização com sede em Moscou depois que o DOJ o acusou de
interferência eleitoral.
1 de julho, 17:28
Musk protegendo a liberdade de expressão
Durante a entrevista, Ionov elogiou Elon Musk por
ousar falar o que pensa, mas argumentou que o empresário bilionário
ainda foi constrangido pela Casa Branca no que poderia dizer.
“Musk é o homem mais rico do mundo. O que ele diz faz sentido. Mas acho que ele ainda está limitado no que pode fazer pela Casa Branca e pelas agências de segurança. Ninguém está seguro. A sociedade lá [nos EUA] tem que viver de acordo com as regras da Casa Branca. Vozes dissidentes são censuradas e as pessoas que se manifestam são punidas”, disse Ionov.
Musk, o autoproclamado “absolutista da liberdade de expressão”, irritou Washington ao desafiar a narrativa dos EUA sobre a Ucrânia. O CEO da Tesla e da SpaceX comparou de forma controversa o envolvimento militar dos EUA na Ucrânia com o do Afeganistão e publicou um mapa das preferências de voto da Ucrânia em 2012 que mostrava o país claramente dividido nas linhas da Rússia Ocidental.