Cartaz do ukro-nazis
por José Goulão [*]
.No dia 24 de Março deste ano, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, assinou o decreto 117/2021 no qual determina que a política oficial do seu regime é a de “reconquistar” a Crimeia à Rússia; e identifica o porto de Sebastopol como alvo prioritário desta estratégia. A iniciativa foi acompanhada pelo transporte de avultados meios de guerra, incluindo comboios de tanques, em direção ao Leste ucraniano, a região onde Kiev tem mantido um cerco e atos de guerra contra as populações civis, essencialmente a cargo de unidades militares e paramilitares nazis.
A decisão de Zelensky provocou uma reação simétrica por parte da Rússia: reforço das capacidades militares na Península da Crimeia e nas imediações da fronteira oriental da Ucrânia. A comunicação social corporativa, sobretudo a “de referência”, só conta esta parte da história, encaixando-a na narrativa da “agressão russa”. Para se ter uma noção da real gravidade da situação, porém, é necessário conhecer o cenário completo.
Volodymyr Zelensky não retirou o decreto da sua cartola porque simplesmente lhe apeteceu ou porque o considere como a mais aconselhável maneira de desviar as atenções da caótica situação interna em que o golpe Euromaidan mergulhou a Ucrânia desde 2014. As circunstâncias demonstram que este ex-comediante de TV transformado em presidente está sob o controlo direto de Richard Moore, chefe dos serviços secretos britânicos MI6, que o recebe em Londres e dirige pessoalmente o cumprimento do guião belicista que ele próprio traçou para ser cumprido a partir de Kiev. Esta ligação foi demonstrada pela televisão “Rossiya 1” e está, naturalmente, associada à integração da Ucrânia, do Mar Negro e das regiões bálticas em geral nas gigantescas manobras militares da OTAN “Defender Europe 21” que estão a decorrer até finais de Junho.
Moore foi antigo embaixador britânico na Turquia, pelo que terá facilitado os contatos entre Erdogan e Zelensky, que têm recentes desenvolvimentos terroristas na região do Mar Negro.
Zelensky tem, portanto, as costas bem quentes. Por isso, o seu chefe de Estado Maior, o general Ruslan Komchak, anunciou que se “prepara para realizar uma ofensiva na Ucrânia Oriental”, operação essa em que “está prevista a participação de membros da OTAN”. Será?
Ao que a OTAN tem respondido, sobretudo durante reuniões efetuadas em meados de abril em Bruxelas, que está ao lado do regime ucraniano na sua defesa da “integridade” do país – declaração curiosa de uma aliança que se dedica a desintegrar países: Iugoslávia, Iraque e Líbia falam por si.
“Integridade” da Ucrânia significa, neste contexto, o regresso da Crimeia à soberania de Kiev e o reforço da repressão contra as populações russófonas das províncias da região do Donbass – Donetsk e Lugansk – que não reconhecem o regime de base nazi nascido do golpe de 2014. Foi precisamente para evitar uma situação de repressão militar como a que vigora no Donbass que a população da Crimeia votou massivamente em referendo a sua reintegração na Rússia, da qual fora separada por ato administrativo assumido nos anos cinquenta do século passado pelo dirigente soviético Nikita Krushchov.
Acontecimentos vertiginosos
Quando Zelensky assinou o decreto que despoletou a situação em desenvolvimento no terreno e nas chancelarias, o secretário da Defesa norte-americano e chefe do Pentágono, Lloyd Austin, declarou o “apoio inabalável dos Estados Unidos à soberania da Ucrânia”. Washington sinalizou assim que não se tratou de um ato isolado do chefe do regime ucraniano e que existe uma interrelação entre o decreto presidencial e a invasão do Mar Negro e da Ucrânia pela OTAN sob a cobertura dos jogos de guerra “Defender Europe 2021”. Exercícios estes envolvendo 40 mil efetivos de 25 países europeus, norte-americanos e africanos para “demonstrar a capacidade dos Estados Unidos em ser um parceiro estratégico nos Balcãs, Mar Negro, no Cáucaso, Ucrânia e em África”.
Ninguém no seu perfeito juízo iria supor que a Rússia ficaria impávida e serena perante tais acontecimentos. Pelo que estamos a viver as incidências de uma inquietante provocação montada para apresentar as medidas defensivas adotadas por Moscou como uma evidência da “agressão russa”.
Dado o sinal por Austin, os acontecimentos tornaram-se vertiginosos.
No dia 6 de abril, o chefe do regime de Kiev telefonou ao secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, para lhe testemunhar que “a OTAN é a única maneira de terminar com a guerra no Donbass” e, portanto, a “sua presença deve ser permanente e um poderoso travão à Rússia, que continua a militarização em larga escala e dificulta as movimentações de navios mercantes”.
Em 10 de abril, Zelensky foi recebido em Istambul pelo “sultão” Erdogan, como já se percebeu por intercessão direta do chefe do MI6. Na sequência do encontro, 150 soldados turcos foram deslocados para Mariupol, cidade ucraniana do Mar Negro, de modo a enquadrar o contingente de mercenários “islâmicos” que os serviços secretos turcos (MIT) estão a recrutar sobretudo em Idlib, na Síria, para combater na Ucrânia tal como têm feito na Líbia e no Azerbaijão.
Em Mariupol encontra-se também a chamada Brigada Islâmica Internacional que a Turquia criou recorrendo a mercenários tártaros.
Antes de se avistar com o presidente turco, Volodymyr Zelensky tinha feito um acordo com o Qatar sobre o arrendamento de um porto no Mar Negro, precisamente Mariupol. O Qatar tem sido um dos países que fornece forças especiais para processos susceptíveis de envolver intervenções da OTAN, como aconteceu na Líbia.
A “contenção” de Kiev
Em 13 de abril reuniu-se em Bruxelas a Comissão OTAN
-Ucrânia, para avaliar “o estado da segurança” neste país; o ministro dos Negócios Estrangeiros de Kiev, Dmytro Kauleb, informou sobre “os últimos desenvolvimentos” e a oportunidade serviu para o chefe de Estado Maior Komchak reafirmar o lançamento da “ofensiva na Ucrânia Oriental”. Os participantes na reunião comprometeram-se a assegurar a “integridade territorial” da Ucrânia, acusaram os “rebeldes do Leste” de “quebrar o cessar-fogo” e a Rússia de reforçar os dispositivos militares, sobretudo na Crimeia. Exigiram a “retirada militar russa da Ucrânia”, isto é, da Península da Crimeia – território russo.
Na ocasião, Stoltenberg congratulou-se pelo fato de a OTAN “ajudar a Ucrânia a concretizar as suas aspirações euro-atlânticas” e prometeu “continuar a desenvolver” a cooperação com este país, e também com a Geórgia, sobre as questões “da segurança no Mar Negro”.
Ainda em Bruxelas e também em meados de abril o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, avistou-se com os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Alemanha, Itália e Reino Unido para proclamar o apoio à “integridade territorial” da Ucrânia; saudou a “contenção de Kiev” perante as “provocações russas” enquanto acusava Moscou de “retórica incendiária”, de multiplicar “ataques na zona de contato” e de reforçar os dispositivos militares na região.
Enquanto isso, dois cruzadores norte-americanos movimentaram-se em direção ao Mar Negro para juntar-se aos vastos meios navais e aéreos da OTAN já ali presentes; e cinco aviões militares de transporte Hércules C-130 viajaram de Estugarda para Kiev. A Aliança Atlântica, entretanto, criou um centro de treino de tiro de precisão em Mariupol. Recorda-se que um dos episódios fulcrais do golpe Euromaidan foi a utilização de snipers georgianos que dispararam simultaneamente sobre manifestantes e polícias para acelerarem os confrontos e o desfecho “democrático” pretendido pela OTAN e a União Europeia.
A Rússia, por seu lado, tem respondido à militarização da Ucrânia pela OTAN sob pretexto dos exercícios “Defender Europe 21” com o reforço dos dispositivos militares na Península da Crimeia e na sua fronteira com a Ucrânia, neste caso através da recolocação do importante corpo de paraquedistas de Pskov.
As razões do fenómeno
Sendo certo que Zelensky não agiu sozinho ao assinar o decreto sobre “reconquistar” a Crimeia poderá levantar-se uma interrogação clássica: porquê agora?
Na verdade, já não resta muito tempo aos Estados Unidos para tentarem alcançar um dos objetivos essenciais dos últimos anos que é o de impedirem a construção do gasoduto North Stream 2 acordado entre a Rússia e a Alemanha para abastecer a Europa de gás natural russo. Os trabalhos estão em fase de conclusão, apesar de várias empresas europeias se terem retirado devido às sanções de Washington, e continuam a ter o apoio da poderosa economia alemã.
Liquidar este projeto de cooperação é, para os dirigentes de Washington, uma via para entorpecer ainda mais as relações entre a União Europeia e Moscou e, sobretudo, para perturbar gravemente a cooperação especial entre a Rússia e a Alemanha, que se desenvolve claramente à revelia das posições da União Europeia e, sobretudo, da OTAN. Enquanto proclama a necessidade de preservar a “integridade” da Ucrânia, Berlim mantém a aposta no gasoduto, incorrendo na reprovação de Washington.
A realização das gigantescas manobras anuais “Defender Europe”, dedicadas aos mares Negro e Báltico e à Ucrânia em particular, definiu a janela de oportunidade própria para Zelensky atear o rastilho de uma situação altamente provocatória, que envolve a movimentação de capacidades nucleares. Está implícita nestas movimentações a intenção de transformar a operação provocatória numa situação de tensão permanente a alto nível, terreno propício para os especialistas em criar focos de confronto que povoam a região, sobretudo os enraizados grupos nazis em que assenta a operacionalidade do regime de Kiev.
O presidente russo, Vladimir Putin, tentou deitar um pouco de água na fervura entrando diretamente em contato com o presidente francês e a chanceler alemã alertando-os para os riscos que estão a ser vividos e pelos quais a Europa pagará um preço incalculável se forem levados às últimas consequências. Merkel e Macron, porém, são peixes graúdos da OTAN mas não são a OTAN.
Outra circunstância que favorece o clima de elevada tensão instaurado é a reconstituição, em torno de Joseph Biden agora como presidente dos Estados Unidos, da equipe operacional da estrutura do Partido Democrata norte-americano que montou o golpe ucraniano de 2014 e que fez do regime assim implantado em Kiev um instrumento provocatório ao serviço do expansionismo da OTAN e dos desígnios imperiais de Washington.
Anthony Blinken, secretário de Estado norte-americano, ele próprio de origem ucraniana, era membro do Conselho de Segurança Nacional e depois secretário de Estado adjunto no período em que a administração Obama/Biden promoveu o golpe.
Blinken canalizou através de Victoria Nuland, operacional do Departamento de Estado em funções no terreno, os cinco mil milhões de dólares para instaurar “um bom governo em Kiev”, como recomendou o atual secretário de Estado.
Nuland esteve em pessoa na Praça Maidan, em Kiev; gravações de conversas nas quais participou dão conta do processo como foram escolhidos os dirigentes ucranianos empossados na ocasião, entre eles alguns quadros de chefia do arreigado sector nazi com passado hitleriano.
O interlocutor de Nuland nessas conversas foi Geoffrey R. Pyatt, atual embaixador dos Estados Unidos na Grécia, de onde dirigiu as operações que criaram, à revelia da vontade popular, um país conhecido como Macedónia do Norte, mais uma parcela da antiga Jugoslávia agora submetida às ordens da OTAN e da União Europeia.
Pyatt era embaixador na Ucrânia em 2013/2014. Agora é o titular da diplomacia de Washington na Grécia, país que acolhe os jogos de guerra “Iniochos 21” da OTAN, centrados no Mar Egeu e também com participação de tropas israelitas e dos Emirados Árabes Unidos, por sua vez integrados na macro estrutura dos exercícios “Defender Europe 21”.
Biden, Blinken, Nuland, Pyatt – a equipa operacional do golpe Euromaidan está de regresso à Ucrânia, dando a ideia nítida de que pretende retomar o que iniciou e levá-lo até às últimas consequências nas fronteiras com a Rússia.
Entretanto, continuamos a ser informados de que tudo está a acontecer por causa da “agressão russa”.
[*] Jornalista.
O original encontra-se em www.oladooculto.com/noticias.php?id=918
Este artigo encontra-se em https://resistir.info