Por Heba Ayyad*
Poucas horas depois que um barco cheio de refugiados afundou na costa oeste da Grécia, parentes dos que estavam a bordo começaram a se reunir em toda a Europa e até mesmo de fora para a cidade de Kalamata, no sul da Grécia, para encontrar seus entes queridos, se perguntando sobre a verdade: o que havia acontecido? Os relatos oficiais não pareciam convincentes para muitos, incluindo organizações de ajuda humanitária e de direitos humanos e ativistas da sociedade civil, a maioria dos quais gregos e europeus.
Segundo testemunhas, entre 400 e 750 pessoas estavam amontoadas em um barco que afundou na madrugada da última quarta-feira, a cerca de 80 quilômetros da cidade costeira de Pylos, no sul da Grécia, depois que o motor falhou durante várias noites após ter saído da cidade Líbia de Tobruk, segundo contaram. Um dos sobreviventes disse à jornalista internacional Heba Ayyad, que mora no Brasil e que falou de sua dor, via online – que preferiu não ser identificada – que muitos não conseguiram sair do barco quando viraram, principalmente os que estavam no convés inferior.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que o acidente vitimou 78 pessoas até agora, e cerca de 500 pessoas – incluindo mulheres e crianças – foram consideradas desaparecidas, enquanto a Guarda Costeira grega atribuiu seu fracasso em resgatar os refugiados antes do barco ter afundado devido à recusa em receber ajuda.
Uma declaração da ONG norueguesa Aegean Boat Report disse que, ao comparar informações da guarda costeira, autoridades gregas, organizações e
sobreviventes, uma coisa parece bastante clara: “Alguém está mentindo deliberadamente para encobrir a verdade”.
Muitos sobreviventes confirmaram que a guarda costeira grega pediu ao barco para segui-lo e, quando o motor do barco refugiado quebrou, foi puxado por uma corda amarrada, fazendo-o balançar fortemente antes de virar, de acordo com vários testemunhos de sobreviventes, seus parentes e ativistas que se comunicaram com os passageiros do barco via satélite. A grande questão permanece: em que direção e com que finalidade o barco foi rebocado, resgatado ou devolvido? E que ações – ou melhor, a falta de ação – a guarda costeira grega seguiu?
A versão da Grécia diz que os refugiados se recusaram a ser resgatados e queriam ir para a Itália, mas as mensagens documentadas publicadas pela organização “Rescue Phone”, que esteve em contato direto com as pessoas no barco, contam uma história diferente, pois as pessoas imploravam por resgate, e seus gritos de socorro foram ignorados, o que acabou levando ao afogamento deliberado.
Um comunicado do “Telefone de Resgate”, visto pela Al WOW NET, dizia que se se tratava de um navio de cruzeiro “em perigo” (atingido no sentido legal). Se centenas de pessoas ricas se afogassem devido à falta de esforços de resgate, a responsabilização seria ser rigorosa, mas “neste caso tememos que ninguém seja responsabilizado e o assunto desapareça”.
WOW Net também revisou o registro oficial de eventos anunciados pela Grécia sob o título “O fluxo de informações sobre uma operação de busca e salvamento em larga escala para estrangeiros em águas internacionais na área marítima de 47 milhas náuticas a sudoeste de Pylos”, e analisou o conteúdo desses eventos, e assistiu a muitos vídeos e fotos do barco afundado por navios que o encontraram.
Narrativas gregas conflitantes
O sobrevivente sírio do barco afundado, Muhammad, chora durante seu reencontro com seu irmão Fadi no porto grego de Kalamata (Reuters)