Moon of Alabama
A Rússia detalhou suas demandas de segurança apresentadas aos EUA e à OTAN sob a forma de dois projetos de tratados.
Além desse que vos escreve, muitos blogueiros e propagandistas experientes também escreveram sobre o assunto:
- MK Bhadrakumar – O espectro da guerra ronda a Europa
- Andrei Raevsky (também conhecido como The Saker) – Ultimato da Rússia ao Ocidente (ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE)
- Andrei Martyanov – Pessoas perguntaram, eu respondo. Na correria.
- Gilbert Doctorow no Antiwar – Um Ultimato Surpresa dos Russos: Novos Tratados para Fazer Recuar a OTAN
- Patrick J. Buchanan no Antiwar – O que fazer com esse ultimato russo
- Gerard Toat no Irish Times – Delírios de todos os lados abriram caminho para o impasse Rússia-OTAN
- Andrei Raevsky novamente – O que poderia acontecer a seguir, se os EUA rejeitarem o ultimato russo?
- Patrick Armstrong – VIMOS O ULTIMATUM, Qual é o “Se não…”?
Andrei Martyanov também explica o momento. A Rússia está tecnologicamente e militarmente em posição forte e atualmente pode sobreviver a uma ruptura com o mundo “ocidental” sem muitos problemas. EUA estão desordenados e OTAN não está pronta para lutar. É simplesmente o momento certo.
Para acrescentar ao seu curto vídeo, observarei também que é inverno, e que a Europa depende do gás russo. A Gazprom não oferece mais gás nos mercados spot europeus; só está entregando quantidades previamente acordadas para parceiros de contrato de longo prazo. Isso pressiona os reguladores alemães a finalmente aprovar o gasoduto Nord Stream II, que EUA e Ucrânia querem impedir por todos os meios. A Rússia não precisa desse gasoduto. Mas a Alemanha, sim, precisa dele.
O momento, portanto, garante que as questões que a Rússia observou receberão a devida atenção em toda a Europa.
Alguns ‘especialistas ocidentais’, como o anti-russo Dimitri Alperovitch, acreditam que a Rússia fará guerra à Ucrânia de qualquer maneira, mas especialmente se os EUA e a OTAN rejeitarem os tratados.
Isso me parece falso. Se algo tiver de ser feito em relação à Ucrânia, o que atualmente não é o caso, será uma guerra ao estilo da Primeira Guerra do Golfo, que destruirá suas forças armadas, mas não invadirá o país. Porque o esforço não vale a pena.
Andrei Martyanov lista uma série de sistemas de armas impressionantes que a Rússia poderia instalar em seu território ou ao redor do mundo e vender para seus “mais do que aliados” China, Índia e outros clientes. As forças dos EUA ficariam, portanto, sob severas ameaças em vários cenários.
Acredito que a Rússia também tem uma série de novas armas e sistemas impressionantes que ainda não revelou. E também podem ser estacionados em muitos lugares e também podem ser vendidos a seus aliados. Aqueles que ameaçam a Rússia sofrerão ameaças pelo menos igualmente fortes em seus gabinetes, escritórios e casas.
Raevsky e Armstrong apresentam mais opções em suas últimas peças listadas acima.
Enquanto isso, a Rússia aumentou a pressão nessa questão. Ao longo dos últimos dias, todas as mais altas autoridades, relevantes para a política externa e defesa, conversaram sobre o assunto. Todos foram traduzidos para o inglês. Isso supostamente ajudará a atrair a atenção que as medidas russas merecem.
Quando a Rússia fala, deve-se ouvir. Aqui, portanto, os trechos relevantes de todas essas entrevistas e discursos.
Em 18 de dezembro, em longa entrevista da Interfax com o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergey Ryabkov, o responsável pelos tratados, explicou o raciocínio por trás das demandas:
“A situação de segurança na Europa, na região Euroatlântica e na Eurásia piorou muito recentemente. Isso aconteceu devido a uma série de ações concertadas dos Estados Unidos e seus aliados da OTAN, que, de modo geral, podem ser descritas como tentativa de minar a segurança da Rússia e de criar um ambiente hostil ao nosso redor. Não podemos aceitar isso.
A Ucrânia está no centro dessa política. As decisões da Ucrânia não são independentes, mas estão sujeitas a alterações conforme a situação. Quando o Ocidente fornece apoio incondicional e irrestrito à Ucrânia, certos setores em Kiev jogam com vistas a alcançar os piores objetivos e fórmulas ocidentais. E a possibilidade de a Ucrânia eventualmente ingressar na OTAN, da qual algumas autoridades ucranianas continuam falando, é categoricamente inaceitável para nós. Faremos o nosso melhor para evitar isso.”
Ryabkov recusa-se a chamar o projeto de tratado de ‘ultimato’ e deixa em aberto o que a Rússia faria se os EUA e seus representantes europeus não reagirem positivamente às preocupações da Rússia:
“Pergunta: Mas se, digamos, eles rejeitarem nossa proposta? Ficaremos de mãos desamarradas?
Sergey Ryabkov: Usaremos os métodos e abordagens apropriados de que precisamos para garantir nossa segurança. Não queremos um conflito e gostaríamos de chegar a um acordo sobre base razoável.”
Em 18 de dezembro, o vice-ministro das Relações Exteriores de Ryabkov, Alexander Grushko, deu uma entrevista ao canal Solovyov Live no YouTube. TASS noticiou:
“A Rússia se envolverá na criação de contra-ameaças, se a OTAN recusar as propostas russas para garantias de segurança, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, no canal Solovyov Live no YouTube no sábado.
“Estamos deixando claro que estamos prontos para falar em passar, de um cenário militar ou técnico-militar, para um processo político” que reforçará a segurança de todos os países da área da OCSE, Euro-Atlântico e Eurásia” – disse. “Se isso não funcionar, sinalizamos a eles (NATO-TASS) que também passarão a criar contra-ameaças, mas será tarde demais para nos perguntar por que tomamos essas decisões e por que implantamos esses sistemas.”
No dia 20 de dezembro, Grushko também concedeu entrevista à Rossiyskaya Gazeta. Foi questionado sobre o que a Rússia faria se não se chegar a acordo algum:
Pergunta: Senhor Grushko, as discussões sobre o plano de ação relativo à expansão da OTAN, que a Rússia propôs a Washington, estão em andamento. O senhor mencionou uma “alternativa técnico-militar”, se a OTAN rejeitar as propostas de Moscou. O que o senhor tem em mente?
Alexander Grushko: Se nossas preocupações forem desconsideradas e os países da OTAN não estiverem prontos para mostrar contenção militar, teremos de usar os instrumentos de resposta à nossa disposição. Não há outra opção. Se o outro lado decidir projetar poder, e muito mais se usar a força, isto é, se aplicar sua capacidade de defesa como meio de pressão econômica ou política, isso será inaceitável para a Rússia e encontraremos métodos para neutralizar essas ameaças.
Pergunta: Que métodos podem ser?
Alexander Grushko: Por exemplo, se sistemas de ataque capazes de chegar aos nossos centros de comando em questão de minutos forem implantados no território dos países da OTAN, teremos de criar uma situação apropriada para eles.
O tempo de voo de um míssil hipersônico disparado de um submarino russo estacionado perto da costa leste dos Estados Unidos (ou de Cuba?) Para Washington DC é impressionantemente curto.
Então Ryabkov conversou com a TASS:
“A Rússia está pronta para uma resposta militar, se a Otan continuar ignorando as preocupações de segurança de Moscou, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, na segunda-feira.
“Eu disse que encontraríamos formas de responder, inclusive por meios militares e técnico-militares [se a OTAN ignorar as preocupações de Moscou novamente]”, disse à TASS o alto diplomata russo.
“Reafirmo isso. Teremos que equilibrar as atividades que nos preocupam, porque aumentam os riscos, com nossas contramedidas”, disse Ryabkov.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, deu uma longa entrevista a vários correspondentes da RT. A transcrição ainda não está disponível, mas o vídeo em inglês está aqui. Durante os primeiros minutos, Lavrov ‘detonou’ o Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg.
Também em 21 de dezembro, o presidente Vladimir Putin discursou na reunião anual ampliada do Conselho do Ministério da Defesa no Centro de Controle de Defesa Nacional. Na parte em que fala sobre a modernização da defesa, diz o seguinte:
“Continuamos a desenvolver ativamente sistemas de armas de ponta. Alguns deles, nomeadamente os sistemas Avangard e Kinzhal, foram postos em prontidão para combate.
Mais tarde, questiona os sistemas de armas dos EUA na Polônia e na Romênia:
“Os lançadores Mk 41, que estão localizados na Romênia e serão implantados na Polônia, são adaptados para lançar os mísseis de ataque Tomahawk. Se essa infraestrutura continuar a avançar, e se os sistemas de mísseis dos EUA e da OTAN forem implantados na Ucrânia, o tempo de voo para Moscou será de apenas 7 a 10 minutos, ou mesmo cinco minutos para sistemas hipersônicos. Esse é um grande desafio para nós, para nossa segurança.”
Putin explica como o projeto de tratado surgiu de sua cúpula virtual com Biden. E continua:
“Precisamos de algo, pelo menos, pelo menos de um acordo legalmente vinculante, em vez de apenas garantias verbais. Conhecemos o valor de tais garantias verbais, belas palavras e promessas. Veja-se o passado recente, no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990, quando nos disseram que nossas preocupações com a expansão potencial da OTAN para o leste eram absolutamente infundadas. E então vimos cinco ondas de expansão do bloco para o leste. Você se lembra de como isso aconteceu? Todos vocês são adultos. Aconteceu numa época em que as relações da Rússia com os EUA e os principais países membros da OTAN eram sem nuvens, se não totalmente aliadas.
Já disse isso em público e vou lembrá-lo novamente: especialistas americanos estiveram permanentemente presentes nas instalações de armas nucleares da Federação Russa. Eles iam ao escritório lá todos os dias, tinham mesas e uma bandeira americana. Isso não foi o suficiente? O que mais é necessário? Conselheiros dos EUA trabalharam no governo russo, oficiais de carreira da CIA deram seus conselhos. O que mais eles queriam? Qual era o sentido de apoiar o separatismo no norte do Cáucaso, com a ajuda até do ISIS – bem, se não do ISIS, havia outros grupos terroristas. Eles obviamente apoiavam terroristas. Para quê? Qual o sentido de expandir a OTAN e retirar-se do Tratado ABM?
Eles são os culpados pelo que está acontecendo na Europa agora, pela escalada das tensões lá.”
Sobre como a Rússia vai consertar isso:
“Naturalmente, como já observei, se nossos colegas ocidentais continuarem sua linha obviamente agressiva, tomaremos as medidas recíprocas técnico-militares apropriadas e teremos uma resposta dura aos seus passos hostis. E gostaria de enfatizar que temos pleno direito a essas ações que visam a garantir a segurança e a independência da Rússia.”
Mais tarde, acrescenta:
“Dada a complicada situação internacional, é necessário desenvolver a cooperação militar e técnico-militar com os Estados membros da Organização de Cooperação de Xangai e da Organização do Tratado de Segurança Coletiva e prestar atenção especial ao fortalecimento da capacidade de defesa do Estado da União Rússia-Bielo-Rússia.”
O discurso de Putin é seguido por outro do ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Ele explica a situação militar da perspectiva russa. A OTAN e os EUA estão fazendo tudo o que podem para invadir a Rússia. Sobre a Ucrânia, Shoigu nota especialmente:
“O desenvolvimento militar do território da Ucrânia pelos países da OTAN está em andamento. A situação está sendo agravada pelas entregas de helicópteros americanos e aliados, veículos aéreos de combate não tripulados e mísseis antitanque guiados. A presença de mais de 120 membros de empresas militares privadas dos EUA em Avdeyevka e Priazovskoye, região de Donetsk, foi comprovada de forma confiável.
Eles estão estabelecendo posições de tiro em casas residenciais e instalações sociais e estão preparando as forças de operações especiais ucranianas e grupos armados de extrema direita para hostilidades ativas. Agentes de guerra química não identificados foram entregues a Avdeyevka e Krasny Liman com o objetivo de provocações. Os militares ucranianos continuam a bombardear bairros civis em Donbass e as posições das milícias populares das Repúblicas de Lugansk e Donetsk para provocar uma resposta.”
Shoigu detalha a quantidade excepcional de armas modernas que as forças armadas receberam e conclui:
“Camarada Comandante Supremo em Chefe,
Todas as tarefas atribuídas às Forças Armadas para 2021 foram cumpridas. A capacidade de combate das Forças Armadas cresceu 12,8%; o nível prescrito de capacidade de defesa nacional foi assegurado. A implementação de todos os contratos assinados garantiu a entrega de mais de 5.000 modelos principais de armamento. O rearmamento do Exército e da Marinha e os serviços regulares tornaram possível manter o equipamento militar em boas condições ao nível de 95%. (…)
A sociedade russa tem grande consideração pelas atividades do Ministério da Defesa. Mais de 90% por cento dos cidadãos russos estão confiantes de que as Forças Armadas são capazes de defender o país e 88% têm orgulho do Exército e da Marinha.
(…)
De acordo com suas instruções, continuaremos a garantir o desenvolvimento sustentável das Forças Armadas e a aprimorar suas capacidades de combate ao longo de 2022. Discutiremos os resultados de nossas atividades em detalhes em nossa reunião de participação limitada.”
Então, Putin volta para uma conversa mais informal. Ele também recusa chamar o projeto de tratado de ‘ultimato’. Putin lamenta a ilegalidade da ação dos EUA:
“Lembrando: tudo o que nossos parceiros – vamos chamá-los assim – os EUA têm feito nos anos anteriores, supostamente garantindo seus interesses e segurança a milhares de quilômetros de seu território nacional – tem sido fazer coisas duras, das mais ousadas, sem a autorização do Conselho de Segurança da ONU.”
Putin observa que em algum momento no futuro os EUA também terão armas hipersônicas como as que a Rússia possui ou está desenvolvendo. Poderiam estacionar na Ucrânia e ameaçar Moscou diretamente. Em seguida, vem a parte importante:
“Conflitos armados e derramamento de sangue absolutamente não são nossa escolha. Não queremos que os eventos ocorram dessa forma. Queremos usar meios políticos e diplomáticos para resolver os problemas, mas queremos, pelo menos, ter garantias jurídicas claramente formuladas. É disso que tratam nossas propostas. Nós as registramos no papel e as enviamos a Bruxelas e Washington, e esperamos receber uma resposta clara e abrangente a nossas propostas.
Existem certos sinais de que nossos parceiros parecem estar dispostos a trabalhar nisso. No entanto, existe também o perigo de que tentem afogar as nossas propostas em palavras, ou num pântano, para aproveitar esta pausa e fazer o que queiram fazer.
Para deixar claro para todos: estamos cientes disso, e essa reviravolta, esses desenvolvimentos, não vão funcionar para nós. Esperamos conversas construtivas e significativas com um resultado visível – e dentro de um prazo definido – que garantiria segurança igual para todos.
É isso que nos esforçaremos para conseguir, mas só podemos conseguir, se as Forças Armadas estiverem desenvolvendo-se de maneira adequada.”