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Sputnik – Para especialista ouvido pela Sputnik, a oferta do Brasil de doar vacinas para países mais pobres reduz ainda mais a credibilidade do governo brasileiro no cenário internacional, pois o mundo inteiro sabe que o país tem problemas para imunizar a sua população.
Ao mesmo tempo em que a CPI da Covid, conduzida pelo Senado federal, divulgava que o Brasil reduziu em 50% a encomenda de vacinas de prevenção à COVID-19 ao consórcio COVAX, um agrupamento de mais de 150 países liderados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), diplomatas brasileiros declaravam na sede da OMS em Genebra, na Suíça, que o Brasil poderá fornecer vacinas aos países mais pobres.
73 anos atrás, a OMS foi estabelecida como autoridade dirigente e coordenadora em saúde internacional. É uma honra apresentar nossos resultados na Assembleia Mundial da Saúde hoje. Com liderança e orientação contínuas de nossos Estados-membros, continuaremos trabalhando em prol da Saúde para Todos.
Segundo o site G1, documentos enviados pelo Ministério das Relações Exteriores à CPI da Covid mostram que, em agosto, o Brasil pediu ao consórcio COVAX vacinas suficientes para imunizar 20% de sua população, e que, em setembro, a encomenda foi reduzida para a imunização de 10% da população.
Por sua vez, o jornalista Jamil Chade, do site UOL, informou nesta terça-feira (25) que a oferta do Brasil aos países mais pobres ocorreu no segundo dia da Assembleia Mundial da Saúde, o principal encontro anual da OMS, que estabelece as diretrizes para o enfrentamento do vírus.
“O Brasil está pronto para contribuir aos esforços globais contra a COVID-19, por meio do fornecimento de doses de vacinas produzidas localmente”, disseram os representantes do Itamaraty, citados pelo UOL.
Chade, no entanto, relatou que os diplomatas não mencionaram quando isso poderia ocorrer e nem para quais países o Brasil destinaria as doses. Além disso, o jornalista apurou que o caminho que está sendo avaliado para efetivar essa doação seria o próprio COVAX Facility.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o advogado Alan Vendrame, especialista em Direito Internacional Público, afirma que a declaração do governo brasileiro em Genebra causa “perplexidade”, pois o Brasil enfrenta um problema de escassez de vacinas e não teria condições de arcar com esse compromisso.
“Como o governo brasileiro empenha a sua palavra perante o mundo, sendo que, dentro da sua própria realidade, as pessoas continuam sendo infectadas, os vírus […] e as variantes […] continuam circulando livremente? […] Como que os países da comunidade internacional vão acreditar numa promessa feita por um país que não consegue vacinar a própria população?”, questiona o especialista.
Para Vendrame, que também tem especialização em políticas públicas de Saúde, além de causar perplexidade, a posição do Ministério da Saúde mostra que a palavra do Brasil “não tem credibilidade”, já que o mundo inteiro sabe o que acontece no Brasil, onde há evidências fartas de que o governo tem uma posição “negacionista” e vem enfrentando problemas para avançar na vacinação.
“Os governadores e prefeitos estão refazendo, o tempo todo, o seu plano de imunização por falta do imunizante, que é importado […] e o governo federal parece que joga contra os governos estaduais […] por uma questão meramente irracional e ideológica”, ao dificultar as negociações com a China, que é o principal fornecedor de insumos para a fabricação de vacinas no Brasil, opina Vendrame.
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Uma enfermeira se prepara para administrar uma dose da vacina da AstraZeneca sob o esquema COVAX no Hospital Geral Eka Kotebe, em Addis Abeba, Etiópia, em 13 de março de 2021